Jornal Maio

Não é novidade que existe atualmente um fenómeno de alterações climáticas provocado pela ação humana. Talvez algo que não se ouça de forma mais regular ou simplesmente mais assertiva é que esta é uma crise devida tanto à sua urgência como à injustiça. Comecemos então pelo fator de urgência. A ciência é clara: se não pararmos a emissão de gases com efeito de estufa de forma a evitar que alcancemos os 2 graus Celsius de aquecimento, o nosso futuro está traçado e não será, no mínimo, agradável. É um futuro onde a água e o alimento faltarão devido a secas, onde a fome extrema duplicará nas regiões do globo mais afetadas por esta crise. Em que é projetado que cerca de 1200 milhões de pessoas se verão obrigadas a abandonar a sua terra por causa de catástrofes climáticas até 2050. Note-se que o valor atrás mencionado corresponde a cerca de 15% da população mundial. A segunda faceta desta crise é também a injustiça, porque é desigual quem a produz e quem sofre com ela. É facto não tão conhecido que metade das emissões de CO2 provêm da atividade dos 10% mais ricos do planeta, que se concentram no Norte global. Simultaneamente, as pessoas mais afetadas são as mais pobres e do Sul global. São também visíveis as cicatrizes do imperialismo, em que uma elite explora não só os trabalhadores em casa, mas também extrai as riquezas dos países que esmagou por meio da força. Em suma, não serão aqueles que começaram esta crise que irão sofrer com ela. Deparando-se com a magnitude da injustiça desta crise, podemos questionar-nos sobre o porquê de não haver uma solução imediata, uma resposta rápida por parte dos governos. Estes governos operam segundo as regras de um sistema económico que coloca à frente da vida o lucro: o capitalismo. A razão pela qual quase nada é feito é somente a promessa de lucro e os interesses de um punhado de empresas que lidam com combustíveis fósseis e que preferem ver a morte de milhares do que a perda dos seus capitais. Perante esta situação poderemos perguntar-nos o que há a fazer para além das óbvias respostas individuais de andar menos de carro e manter as luzes de casa apagadas sempre que possível. A resposta a isto dá-a a história: somente com a nossa ação coletiva foi possível conquistar qualquer tipo de direito ou regalia, seja nos postos de trabalho ou na sociedade em geral. E será também nesta organização e ação coletiva que conquistaremos um planeta em que viveremos sem medo de cheias ou temporais, sem donos do mundo que nos condenarão à fome e à deslocação forçada. Esta luta já existe e é protagonizada diariamente por estudantes, comunidades indígenas e movimentos de trabalhadores.

Apelo assim aos leitores que se juntem em solidariedade com os bloqueios de escolas que serão feitos na semana de 17 a 21 de novembro, que culminarão numa manifestação em que os estudantes convidam toda a sociedade civil a participar no dia 22 do mesmo mês. Vamos mostrar a quem nos governa que faremos do acesso a um futuro seguro um direito nosso, que não importa quanto o lucro lhes valha, que nós juntos já mudamos o mundo e que continuaremos a fazê-lo. 

José Borges

Estudante