Alentejo:
trabalho forçado
e destruição ecológica
Dezenas ou centenas de milhares de trabalhadores, na esmagadora maioria imigrantes, trabalham de sol a sol nos campos portugueses, em condições indignas do século XIX, quanto mais do século XXI.
Já não os empregam tanto os velhos latifundiários de antes da revolução. Com a União Europeia e o comércio livre, entrou no país, principalmente nos campos do Alentejo, uma nova espécie invasora: os grandes investidores e fundos especializados em extorquir o máximo de fundos, o máximo de trabalho e o máximo de azeite e de frutos da terra do mínimo de investimento, de terra e de trabalhadores.
Alguns comandam e servem máfias que organizam um tráfico de seres humanos digno dos tempos da escravatura. Sugam a água e os recursos naturais, esgotam e destroem os solos, expulsam as populações e a cultura popular e escravizam quem os traficantes lhes trazem.
Hoje, são meia dúzia de grupos económicos, fundos financeiros americanos e espanhóis, essencialmente, que determinam o que se rega e onde, no Alqueva. Atuam como verdadeiras máfias, e a impunidade destas empresas mantém-se, inclusive no domínio ambiental, onde acontecem verdadeiros crimes. Com estas empresas predadoras de recursos económicos e naturais vem também o tráfico humano e a indigência que é promovida por este tipo de “agricultura”.
Cristina Morais
Com o apoio do Pedro Manda-Chuva, conseguiram que umas herdades de sequeiro passassem a ter água para regar e que outras que já regavam ilegalmente fossem abençoadas pela boa vontade do Estado, que fez de tudo para que o Zé do Paquete passasse a Zé da Amêndoa e El Pedrito Azeiteiro, homem dos azeites espanhóis, entrasse também na aventura da amêndoa alentejana com patente americana. Quem diria que, volvidos 2000 anos do nascimento de Jesus, estaríamos a assistir às práticas esclavagistas romanas, agora em versão 2.0?
Cristina Morais
Será a culpa da falta de água dos consumidores que não fecham as torneiras? O problema da escassez de água no Sul de Portugal e da Península Ibérica é uma adversidade penosa recente, que deriva do uso insustentável da água que a Natureza dá à região, devida à expansão descontrolada das culturas em regadio intensivo. Em zonas onde o clima é caracterizado por baixa quantidade de chuva, a atividade humana que depende da disponibilidade de água tem de ser planeada para os valores mínimos de precipitação anual e não para a média.
Maria Carolina Varela, engenheira florestal
A plataforma cívica Juntos pelo Divor — Paisagem e Património apela contra os projectos de instalação de grandes centrais fotovoltaicas na bacia da albufeira do Divor, na proximidade da cidade de Évora.
Ana Barbosa e Marcial Rodrigues
Caminhamos para a completa desertificação quer do solo quer da cultura local, que se transforma numa paisagem lunar, apenas destinada a meia dúzia de espécies, não autóctones, que não permitem, e expulsam, tudo o que é vida.
Justamente o contrário do que nos prometeram — que as águas de Alqueva iam tornar o Alentejo num paraíso verde. Todas as marcas de ordenamento do território que o homem construiu ao longo de milhares de anos estão desaparecendo. Para além da natureza, serão as pessoas e a cultura que desaparecem.
Jorge Cruz
Quem são, afinal, os reais beneficiários do trabalho escravo nos campos do Alentejo? Quem são e a que título os donos das herdades? Quem contrata, quem vigia e quem explora os trabalhadores imigrantes? Leiam aqui o artigo de Antonio Garcia Pereira.
António Garcia Pereira