Massacre nas favelas do Rio
Uma operação mortal a serviço de uma política de repressão e de destruição dos serviços públicos.
Um verdadeiro massacre foi perpetrado em duas favelas na zona norte do Rio de Janeiro em 29 de outubro, por ordem do governador bolsonarista Cláudio Castro, do PL. A operação mobilizou 2500 soldados e policiais nas favelas do Alemão e da Penha. Custou a vida de quase 150 moradores e 4 policiais.
O "combate ao narcotráfico" invocado é apenas um pretexto para esta demonstração de força militar. Aqueles que controlam e lucram com o tráfico não vivem nas favelas e pertencem à classe capitalista. Por exemplo, uma recente operação da Polícia Federal em São Paulo revelou as ligações entre grupos criminosos e grandes empresas do setor financeiro (as fintechs) com sedes na luxuosa Avenida Faria Lima.
No Rio, cerca de 22,16% (aproximadamente 1,5 milhão) da classe trabalhadora vive nas favelas, em condições precárias, até mesmo miseráveis. Os programas sociais implementados pelo governo Lula aliviaram a fome de alguns milhões de brasileiros, no entanto, não erradicaram a pobreza.
Aqueles que controlam e lucram com o tráfico não vivem nas favelas (…) uma recente operação da Polícia Federal em São Paulo revelou as ligações entre grupos criminosos e grandes empresas do setor financeiro.
Essa ação criminosa de um governador do Partido Liberal, partido de Bolsonaro, ecoa a política de Trump de rotular traficantes de drogas como "narcoterroristas", portanto "em guerra" com o Estado (e, em consequência, com os Estados Unidos). Não é coincidência que o governador Cláudio Castro tenha viajado aos Estados Unidos há dois meses para discutir essa questão com o governo Trump.
Um projeto de lei para classificar esses grupos como "narcoterroristas" está sendo debatido no Congresso Nacional. O senador Flávio Bolsonaro declarou recentemente que os militares americanos deveriam bombardear barcos de contrabandistas na baía de Guanabara como estão fazendo no Mar do Caribe em ameaça à soberania venezuelana.
Essas operações policiais, como as de ontem, paralisam os serviços públicos nas áreas afetadas, interrompendo seu funcionamento, o que diz muito sobre o desprezo da classe dominante pela população das favelas.
O projeto de reforma administrativa atualmente em tramitação no Congresso Nacional, por pressão da política de "ajuste orçamentário" (Arcabouço Fiscal) do governo Lula para o pagamento de uma dívida pública ilegitima, visa destruir esses serviços públicos e abrir caminho para suas privatizações. Esse Congresso, inimigo do povo, que tentou emplacar a PEC da bandidagem, rejeitada pela ampla maioria da população, não tem qualquer legitimidade democrática para destruir uma conquista histórica da população.
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Nunca os trabalhadores precisaram tanto de uma voz independente.
Por ora, as lideranças dos sindicatos do setor público protestam timidamente sem exigir a retirada do projeto e sem colocar em preparação uma paralisação geral nacional do funcionalismo. Vale lembrar que fortalecimento dos serviços públicos nas favelas atenderia às necessidades básicas e criaria empregos para jovens, muitos dos quais atualmente sem outra perspectiva senão serem contratados por traficantes de drogas.
Após a intervenção policial, o governo Lula propôs a aprovação imediata da PEC da Segurança, que integra as forças de segurança de todas as esferas governamentais sob controle do governo central, reforçando seu poder bélico. Isso não impedirá novos massacres.
As organizações de trabalhadores devem condenar os massacres policiais e exigir a apuração dos fatos, o fim do governo Castro imediatamente e a dissolução da Polícia Militar, instituição herdada da ditadura. Elas devem lançar uma campanha para proteger os jovens nas favelas por meio da criação de serviços públicos e de erradicação da miséria. Dinheiro para isso existe, desde que o governo cesse suas isenções fiscais para grandes corporações e bancos, tribute os ricos e pare de pagar uma enorme dívida pública ilegítima. As organizações de trabalhadores e jovens devem também convocar uma luta unida dos servidores públicos e da população pela retirada do projeto de "reforma administrativa" que destruirá os serviços públicos agravando a miséria das populações pobres.
De maneira mais geral, devemos lutar para derrotar Trump e suas políticas belicistas para a Venezuela e a América Latina sob o falso pretexto de "combater o narcotráfico".
Anísio G. Homem
Editor do boletim A Luta de Classes